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O trajeto do quinteto cearense Jack the Joker, até aqui, deixa o grupo de metal progressivo em uma posição interessante na cena local. O equilíbrio entre produzir boa música e cuidar da carreira levou Raphael Joer (voz), Lucas Colares (guitarra), Felipe Facó (guitarra), Lucas Arruda (baixo) e Vicente Ferreira (bateria) a dar passos além do nicho do metal. “Mors Volta”, o segundo álbum, recém-lançado nas plataformas digitais, traz essa potência e marca o lançamento como um disco de rock “digerível” para qualquer ouvinte de música.

Sucessor de “In the Habbit Hole” (2014), o álbum sai após o Jack the Joker colecionar apresentações, em Fortaleza, como as de abertura dos shows de André Matos (SP), Nightwish (Finlândia), Soulfly (EUA, pelo festival Ponto.CE), entre outros. O grupo ainda viajou com os paulistas do Notunall para Quixadá (CE) e Mossoró (RN).

Questionado se a experiência de palco serve de laboratório para o registro em estúdio, o guitarrista Lucas Colares, em entrevista, diz que há os dois caminhos: o palco influencia o som gravado, e vice-versa.

“Acho que todo show que a gente fez, e recebe um feedback, acaba influenciando (para o próximo álbum). E também pensar a estrutura de um show ajuda a selecionar as músicas para o disco. Eu percebo que há (em outras bandas) músicas que funcionam tanto ao vivo, que parece que a banda fez a música para apresentá-la ao vivo”, observa Lucas.

Registro

O processo de gravação de “Mors Volta” foi registrado em um “making of”, disponível em três partes no YouTube (/jackthejoker): vozes e guitarras (parte 1); baixos e baterias (2) e produção (3). Os vídeos mostram passagens da banda por estúdios em Fortaleza e em São Paulo; além de entrevistas dos músicos e do produtor Adair Daufembach.

Lucas Colares conta que, no disco anterior, a banda tinha feito um making of “meia boca”. Gravar o processo com mais cuidado, desta vez, foi inspirado no making of de outras bandas, que “a gente sempre acompanha, até pra rir das piadas da galera mesmo (dentro do estúdio)”, pontua.

24 minutos

No decorrer das nove faixas de “Mors Volta”, um dos pontos fora da curva é a duração da última música, “Venus & Mars”: mais de 24 minutos. Soa quase como outro álbum. São vários atos em uma mesma composição. Lucas Colares observa o trabalho que deu para se chegar ao resultado final. A ideia de ter todo esse esforço foi do outro guitarrista da banda, Felipe Facó, autor das bases.

“O Facó teve a ideia de orquestrar a música toda: ele escreveu toda a orquestração, pedindo feedback a um pessoal da Uece”, detalha Lucas. Ele descreve que, ao longo dos 24 minutos, “você tem linhas de metais, madeira. Tem pianos, percussões. A introdução da música foi composta pelo Caio, um colega do Facó. A letra, pelo Joer. Todo um processo gigantesco. Mas ela tem começo, meio e fim”, diz o guitarrista.

Encarando com humor todo o processo, Lucas Colares revela que, a princípio, ele e os demais membros do Jack The Joker simplesmente fazem uma música que, eles mesmos, gostariam de ouvir.

“O David Gilmour, do Pink Floyd, diz que ele nunca vai estar do lado de quem ouve o (clássico álbum) ‘Dark side of the moon’. A relação é diferente do ouvinte comum. É sobre um orgulho de ter feito a música, daí a gente não enjoa”, observa.

Organização

Tudo que envolve o Jack the Joker traz uma organização notável. De um site bem resolvido ao cuidado em produzir uma memória sobre os processos da banda, a carreira do quinteto de metal funciona com os integrantes dividindo tarefas sem, no entanto, forçar a barra pra ninguém.

“O Raphael (Joer) manja muito de publicidade, do site. O Vicente também tem muita visão de mídia (ele editou o making of). A gente se preocupa em colocar tudo nas plataformas de streaming”, diz Lucas. E completa: “Vemos quem tem aptidão pra fazer o quê. Eu gosto de trabalhar com equipamentos (técnicos). Espontaneamente, essa organização acontece”, resume o guitarrista.

Fique por dentro 

Jack the Joker despista clichês do metal, em “Mors Volta” 

Logo na faixa de abertura, “Volte Face”, o Jack the Joker traz uma síntese da boa qualidade do álbum. O som do quinteto cearense, em “Mors Volta”, soa muito claro, e a performance técnica toma distância do mais grave clichê do metal: o virtuosismo pelo virtuosismo. A banda segue uma direção criativa, nesse sentido, se for considerado que, se tratando de um metal “progressivo”, seria até comum se houvesse aqui alguma espécie de masturbação sonora. Ouça como o vocal melódico de Raphael Joer conduz a dinâmica das faixas “alinhado” ao instrumental, e não independente disso. O conjunto é forte. Entrosados com o produtor paulista Adair Daufembach, os cinco integrantes empregaram suas técnicas a serviço do repertório, e ponto. O esforço leva as nove faixas do disco (mesmo a longuíssima “Venus & Mars”, com mais de 24 minutos de duração) a uma amplitude: se o resultado soa limpo, ao mesmo tempo não perde a agressividade, aquele “punch” necessário para se identificar quando um disco de rock vale a pena. O maior trunfo do segundo álbum dos cearenses é levar o metal progressivo ao gosto de quaisquer pessoas que se interessem por conhecer um som harmônico. (FG)

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